A LOGOTERAPIA COMO CAMINHO DE SENTIDO NO ENFRENTAMENTO DA ANSIEDADE: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Poliane Pereira de Freitas

RESUMO

A ansiedade é uma das condições psicológicas mais frequentes na contemporaneidade, afetando substancialmente o bem-estar emocional e a capacidade adaptativa dos indivíduos. Nesse cenário, a Logoterapia, desenvolvida por Viktor Emil Frankl, apresenta-se como uma abordagem que compreende o ser humano em sua dimensão espiritual, enfatizando a busca de sentido como núcleo da saúde mental. Esta revisão bibliográfica teve como objetivo analisar as evidências científicas brasileiras produzidas entre 2005 e 2025 sobre a eficácia da Logoterapia no manejo da ansiedade. Trata-se de um estudo de revisão integrativa que contempla artigos, dissertações e teses disponíveis em bases nacionais e internacionais. Os resultados indicam que a Logoterapia contribui significativamente para a redução de sintomas ansiosos ao promover ressignificação existencial, fortalecimento de valores e aumento da percepção de propósito. Embora ainda haja escassez de pesquisas quantitativas de grande escala no Brasil, as produções existentes demonstram o potencial clínico, educacional e organizacional da abordagem. Conclui-se que a Logoterapia representa uma alternativa terapêutica relevante, sensível e humanizadora no enfrentamento da ansiedade, reforçando a importância de novos estudos empíricos que ampliem a compreensão de seus efeitos e aplicações.

Palavras-chave: Ansiedade. Logoterapia. Viktor Frankl. Sentido da Vida. Psicologia Existencial.

INTRODUÇÃO

A ansiedade é um fenômeno multifacetado, caracterizado por inquietação, apreensão, medo difuso e tensão física ou mental, podendo manifestar-se tanto como reação adaptativa quanto como transtorno debilitante. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (2023), o Brasil destaca-se entre os países com maiores índices de transtornos ansiosos, evidenciando um problema de saúde pública que exige atenção interdisciplinar. Esse aumento está associado ao ritmo acelerado da vida moderna, às incertezas sociais, ao individualismo e ao enfraquecimento dos vínculos de sentido.

Nesse contexto, a Logoterapia — abordagem psicoterapêutica fundada por Viktor Frankl — ressurge como possibilidade integradora, ao reconhecer que grande parte do sofrimento humano emerge da perda de propósito, do vazio existencial e da dificuldade em atribuir significado às experiências. Frankl (1989) afirma que a motivação essencial do ser humano é a vontade de sentido, e que sua ausência favorece sintomas como angústia, desmotivação e ansiedade. Essa perspectiva dialoga com observações clínicas contemporâneas, que apontam que muitos pacientes ansiosos vivenciam desconexão consigo mesmos, com seus valores e com seus projetos de vida.

Diante disso, compreender a ansiedade não apenas como sintoma, mas como expressão de um desamparo existencial, torna-se fundamental. Este artigo tem como objetivo revisar evidências científicas brasileiras que investigaram o uso da Logoterapia como estratégia terapêutica para o tratamento da ansiedade entre 2005 e 2025. Busca-se ainda discutir as implicações teóricas e práticas da abordagem e sua contribuição para a psicologia clínica atual.

DESENVOLVIMENTO

1. A compreensão psicológica da ansiedade

A ansiedade, sob diferentes perspectivas teóricas, é entendida como uma resposta emocional diante de ameaça, podendo ser funcional ou patológica. Abordagens cognitivas, como as de Beck e Clark, descrevem que interpretações distorcidas da realidade levam à antecipação catastrófica do futuro, produzindo medo persistente e comportamentos de evitação. Para a psicanálise, desde Freud, a ansiedade emerge como sinal de conflito interno e defesa psíquica. Já os modelos comportamentais e contemporâneos ampliam essa compreensão ao considerar influências de aprendizagem, fatores socioambientais e predisposições biológicas.

Autores da neurociência moderna, como Gazzaniga e Damásio, explicam que a ansiedade resulta da interação entre circuitos cerebrais da emoção, experiências de vida e fatores genéticos. No Brasil, pesquisas também relacionam a ansiedade à vulnerabilidade social, ao estresse crônico e ao esvaziamento existencial típico da modernidade. Essa multiplicidade de fatores indica que a ansiedade exige uma abordagem biopsicossocial e, conforme Frankl propõe, também espiritual que considere a busca de sentido como elemento estruturante da vida humana.

2. Fundamentos teóricos da Logoterapia

A Logoterapia, criada por Viktor Frankl, propõe que o ser humano possui liberdade interior para escolher suas atitudes diante das circunstâncias, mesmo diante do sofrimento. Seus três pilares teóricos fundamentais são: liberdade da vontade, vontade de sentido e sentido da vida. Frankl defende que a saúde mental está diretamente relacionada à capacidade de encontrar significados pessoais nas experiências vividas.

Elisabeth Lukas aprofundou esses conceitos ao descrever o papel do terapeuta como facilitador do processo de descoberta de sentido, enfatizando que mesmo situações dolorosas carregam potencial de crescimento. A Logoterapia reconhece a dimensão espiritual — não religiosa — como centro da identidade humana, diferenciando-se de outras abordagens psicoterápicas que priorizam aspectos cognitivos ou comportamentais. Dessa forma, oferece uma compreensão integral do ser humano, articulando ciência, filosofia e espiritualidade.

3. A Logoterapia e a ressignificação da ansiedade

Sob a perspectiva logoterapêutica, a ansiedade pode refletir um estado de vazio existencial, no qual o indivíduo perde a percepção de propósito e direção. Frankl descreve que a ansiedade existencial não deve ser eliminada, mas compreendida como um convite ao crescimento. Técnicas como a intenção paradoxal e a mudança de atitude auxiliam o paciente a assumir postura mais ativa e significativa diante das adversidades.

Pesquisas de Almeida (2021) e Santos (2023) mostram que intervenções fundamentadas na Logoterapia favorecem redução dos sintomas ansiosos e fortalecimento da resiliência emocional. Ao reencontrar valores e metas pessoais, o paciente desenvolve maior sentido de coerência e capacidade de enfrentamento. Assim, a Logoterapia transforma a ansiedade de ameaça em oportunidade de transformação.

4. Evidências científicas brasileiras (2005–2025)

Estudos brasileiros demonstram crescente interesse pela Logoterapia como ferramenta no manejo da ansiedade. Pesquisas realizadas em contextos clínicos, educacionais e organizacionais apontam efeitos positivos da abordagem. Trabalhos como os de Souza e Lemos (2017) verificaram que técnicas logoterapêuticas reduziram significativamente a ansiedade em universitários. Campos (2019) e Oliveira (2020) observaram resultados semelhantes com profissionais da saúde, destacando ganhos em bem-estar e propósito de vida.

Apesar desses avanços, a produção científica ainda é composta majoritariamente por estudos qualitativos, relatos de caso e análises teóricas. Barbosa (2023) ressalta a necessidade de pesquisas experimentais robustas que ampliem a validade dos resultados. Ainda assim, o conjunto das evidências aponta que a Logoterapia oferece benefícios consistentes e integrais no tratamento da ansiedade.

5. Discussão e implicações práticas

A literatura analisada demonstra que a Logoterapia contribui de maneira significativa para a redução da ansiedade ao promover ressignificação existencial e fortalecimento da vontade de sentido. A abordagem pode ser integrada à Terapia Cognitivo-Comportamental, Psicologia Positiva e práticas de saúde mental no trabalho e nas escolas, ampliando seu impacto. A Logoterapia amplia o papel do psicólogo, que passa a atuar não apenas no alívio de sintomas, mas na facilitação da construção de sentido, esperança e propósito.

CONCLUSÃO

A revisão realizada evidencia que a Logoterapia é uma abordagem eficaz, sensível e humanizadora para o tratamento da ansiedade, especialmente por considerar a dimensão existencial do ser humano. Estudos brasileiros das últimas duas décadas demonstram que a intervenção baseada no sentido promove bem-estar psicológico, resiliência e redução significativa da angústia. Contudo, ainda são necessários estudos quantitativos e longitudinais que consolidem sua eficácia em diferentes contextos. A Logoterapia reafirma-se como um caminho de sentido e transformação para o cuidado da saúde mental contemporânea.

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