A Saúde mental é um retorno à própria história
Entre Lacan e Foucault, a “saúde mental” não é equilíbrio, mas o movimento ético de um sujeito que se reconhece atravessado pela história, pela linguagem e pelo poder, e ainda busca reinventar-se

Lacan afirma que: "O psicanalista, por definição, deve estar atento ao que se produz em seu tempo."
O filósofo Foucault estudava a história para compreender como nos tornamos o que somos.
A linha do tempo histórica da subjetividade
Os períodos históricos apresentados aqui são recortes gerais, estruturados para facilitar a compreensão das transformações culturais, políticas e subjetivas.
Na realidade, as formas de vida e de pensamento de cada época convivem entre si, atravessando o presente sob diferentes modos de expressão.
Ainda hoje, traços medievais, iluministas ou neoliberais coexistem em nossas instituições, discursos e modos de laços sociais.
Sociedades Primitivas - (até ~3000 a.C.)
Economia /Política: Sobrevivência comunitária (caça e coleta)
Corpo: Corpo coletivo e ritual
Família: Clã coletivo
Mulher: Símbolo da fertilidade e da natureza. A divisão de trabalho por gênero não era tão rígida
Saúde Mental: Equilíbrio espiritual e comunitário
Loucura: Conexão com os Deuses
Antiguidade Clássica - (Mesopotâmia, Grécia, Roma; ~3000 a.C.-séc.V)
Economia /Política: Organização hierárquica e militar (pólis e impérios)
Corpo: Corpo ideal e heroico
Família: Núcleo patriarcal político
Mulher: Objeto de troca e beleza. Sem participação política ou direitos legais
Saúde Mental: Harmonia corpo-razão
Loucura: Intervenção Divina ou Desequilíbrio físico
Idade Média - (séc. V-XV)
Economia /Política: Domínio teocrático e feudal
Corpo: Corpo culpado e punido
Família: Patriarcal e religiosa
Mulher: Pecadora ou santa
Saúde Mental: Purificação e penitência
Loucura: Possessão demoníaca
Renascimento e Iluminismo - (séc. XVI-XVIII)
Economia /Política: Racionalização e ascensão burguesa
Corpo: Corpo racionalizado e anatomizado
Família: Nuclear burguesa disciplinadora
Mulher: Reprodutora e esposa ideal
Saúde Mental: Disciplina e racionalização da mente
Loucura: De convivência social para desrazão confinada
Revolução Industrial - (séc. XIX)
Economia / Política: Produção industrial e capitalismo
Corpo: Corpo disciplinado e produtivo
Família: Modelo moral e afetivo burguês
Mulher: As burguesas restritas ao lar e as operárias exploradas pelas fábrica
Saúde Mental: Medicalização e controle social
Loucura: Doença mental diagnosticada. Objetificação e controle
Guerras, Fordismo e Bem-Estar Social - (séc. XX)
Economia / Política: Estado de bem-estar e economia de guerra
Corpo: Corpo moldado e protegido
Família: Família moderna e institucionalizada
Mulher: Cidadã em luta por direitos
Saúde Mental: Tratamento institucional e políticas públicas
Loucura: Doença mental, exclusão social e desumanização em manicômios. Início da luta antimanicomial
Neoliberalismo e Contemporaneidade - (1980 - hoje)
Economia / Política: Neoliberalismo, globalização e plataformas digitais
Corpo: Corpo mercadoria e capital estético
Família: Famílias plurais, mas ainda moldadas por padrões de sucesso e imagem
Mulher: Emancipada, porém sexualizada e cobrada por perfeição
Saúde Mental: Sofrimento ligado ao excesso, ao desempenho e a imagem
Loucura: Experiência subjetiva a ser ouvida. Expressão do mal-estar social e da cultura do excesso
