Eu me levo a sério demais.
Levar os pensamentos a sério demais é esquecer que a vida não pede licença, ela se faz nos tropeços.

Às vezes me surpreendo admirando meus próprios pensamentos, como se fossem pequenas obras de arte que não precisassem sair da minha cabeça para existir. Eles estão lá, enfileirados como quadros em uma galeria particular, silenciosos, intocados, sem a bagunça da vida real. O pensar me satisfaz, e, paradoxalmente, é justamente esse prazer que impede que o desejo se realize fora de mim. Como se imaginar fosse suficiente, como se idealizar fosse equivalente a viver.
Planejo, organizo, ensaio mentalmente cada movimento, e sinto uma falsa sensação de completude, sem nunca precisar agir de verdade. É irônico: enquanto isso, a vida acontece lá fora, cheia de tropeços, imprevistos, improvisos. Pessoas se arriscam, caem, levantam, recomeçam, enquanto eu permaneço segura, abrigada no conforto da minha própria antecipação. Na minha cabeça, tudo funciona perfeitamente. Mas, na realidade, nada acontece.
Talvez eu leve meus pensamentos a sério demais. Como se cada ideia precisasse ser impecável antes mesmo de ser vivida. Como se a perfeição fosse condição para o movimento. E nessa espera pela perfeição, o tempo passa, e eu quase esqueço que o mundo não espera por mim. O mundo não espera a minha permissão, nem a minha aprovação, para continuar girando.
Tenho tentado me lembrar que viver não é sinônimo de pensar. Pensar pode ser bonito, mas viver é arriscado. E é nesse risco que mora o sabor da experiência. O erro, que tantas vezes evito, também faz parte. Ele não é inimigo, é sinal de que eu tentei, de que dei um passo além da fantasia. Errar é o que me mostra novos caminhos. Tropeçar é o que me ensina a andar de outro jeito.
Às vezes é preciso sair da própria cabeça e entrar, de fato, na vida. Porque o pensar satisfaz, mas só a experiência transforma. O mundo não espera a minha perfeição, e talvez justamente aí esteja a chance de viver de verdade.
Talvez eu precise aprender a errar. É que a perfeição me foi apresentada como única possibilidade. Mas a vida insiste em me mostrar que não se deixa enquadrar tão facilmente.
