Mito do herói: a jornada do autoconhecimento
O mito do herói, de Joseph Campbell, representa a jornada universal de autotransformação. Jung o interpreta como o processo de individuação, e na terapia, simboliza o caminho de autoconhecimento e cre

O Mito do Herói é um conceito proposto pelo mitólogo e escritor Joseph Campbell em seu livro "O Herói de Mil Faces". Segundo Campbell, o mito do herói é uma narrativa universal que está presente em todas as culturas e tem como protagonista um herói que enfrenta desafios, lutas e provações para superar suas fraquezas e alcançar um objetivo nobre.
A jornada do herói é composta por várias etapas que incluem:
O Chamado à Aventura: O protagonista é convocado para uma jornada, muitas vezes por meio de um evento incomum ou traumático.
Recusa ao Chamado: O protagonista resiste ao chamado à aventura, muitas vezes devido a medo ou incerteza.
Encontro com o Mentor: O protagonista encontra um mentor que o ajuda a se preparar para a jornada.
Atravessar o Limiar: O protagonista deixa sua zona de conforto e entra em um novo mundo ou situação.
Testes, Aliados e Inimigos: O protagonista enfrenta uma série de testes e encontra aliados e inimigos que o ajudam ou o atrapalham em sua jornada.
Aproximação: O protagonista se aproxima do objetivo final de sua jornada.
Crise: O protagonista enfrenta uma grande crise ou obstáculo que ameaça a realização de sua missão.
Tesouro ou Recompensa: O protagonista consegue superar a crise e alcança seu objetivo final.
O Caminho de Volta: O protagonista retorna ao seu mundo cotidiano.
Ressurreição: O protagonista enfrenta um último teste, que testa sua determinação e habilidades recém-adquiridas.
11. Retorno com o Elixir: O protagonista retorna com o elixir, ou recompensa, que traz transformação ou benefícios para si e para os outros.
Ao final dessa jornada, o herói retorna ao seu mundo de origem transformado, trazendo consigo um tesouro ou um conhecimento que pode ser usado para ajudar os outros.
Campbell argumentou que esses mitos do herói são uma expressão simbólica da busca humana pela realização pessoal e espiritual, e que podem ajudar a inspirar e guiar as pessoas em suas próprias jornadas de vida. O conceito do mito do herói tem sido amplamente aplicado em diversos campos, como na literatura, no cinema, nos videogames e até mesmo em contextos de coaching e desenvolvimento pessoal.
A JORNADA DA HEROÍNA
A jornada da heroína, também conhecida como a "jornada da mulher", é um modelo de narrativa desenvolvido pela escritora e psicóloga Maureen Murdock, que propõe uma estrutura específica para histórias que exploram a jornada pessoal de uma mulher.
Ao contrário da jornada do herói, que se concentra na jornada de um personagem masculino, a jornada da heroína destaca a experiência feminina, incluindo questões como relacionamentos, maternidade, identidade feminina e equilíbrio entre o mundo interior e exterior.
A jornada da heroína é composta por sete etapas, que incluem:
Separação: A heroína se sente insatisfeita com sua vida atual e busca uma mudança. Ela pode se sentir presa em um papel ou relacionamento que não a satisfaz.
Iniciação: A heroína entra em um novo mundo ou situação, onde é desafiada e deve aprender novas habilidades e enfrentar novos desafios.
Testes: A heroína passa por testes e desafios, que a ajudam a desenvolver sua força e confiança.
Descentramento: A heroína é confrontada com a verdadeira natureza do mundo e de si mesma, e deve se afastar das expectativas culturais e de gênero impostas a ela.
Encarnação: A heroína encontra sua verdadeira identidade e assume sua autenticidade.
Iluminação: A heroína ganha uma nova perspectiva sobre si mesma e sobre o mundo.
Retorno: A heroína retorna ao mundo cotidiano, onde deve integrar sua jornada pessoal com suas responsabilidades diárias.
Essas etapas podem ser encontradas em muitas histórias de heroínas, incluindo obras literárias, filmes e até mesmo em experiências pessoais. A jornada da heroína de Maureen Murdock é uma ferramenta útil para entender e explorar a experiência feminina de transformação e crescimento pessoal, ajudando as mulheres a entender sua própria experiência de transformação e crescimento pessoal, além de oferecer inspiração e empoderamento para lidar com seus próprios desafios pessoais.
VISÃO DO MITO DO HERÓI NA PSICOLOGIA ANALÍTICA
Carl Jung, um dos principais discípulos de Sigmund Freud e fundador da psicologia analítica, também trabalhou com o conceito do mito do herói em suas teorias. Para Jung, os mitos são expressões simbólicas do inconsciente coletivo da humanidade, que representam padrões universais de comportamento e experiência. O mito do herói, segundo Jung, é uma expressão simbólica do processo de individuação, que é a busca pela realização plena do ser humano.
Jung argumentou que o herói é um arquétipo que representa o self, o centro da personalidade que integra a totalidade do psiquismo humano. A jornada do herói, portanto, representa o processo de individuação, que envolve a integração das partes da personalidade que estavam separadas ou reprimidas, e a busca pela realização do potencial humano máximo.
Jung também enfatizou a importância de trabalhar com os símbolos e mitos pessoais para ajudar na jornada da individuação. Ele acreditava que ao se conectar com os próprios mitos pessoais, as pessoas podem encontrar significado e propósito em suas vidas e superar os desafios que enfrentam.
O mito do herói tem sido utilizado como uma metáfora poderosa para a jornada de crescimento pessoal e transformação que ocorre na terapia. A terapia pode ajudar os pacientes a reconhecerem e trabalharem com as várias etapas do mito do herói, incluindo a chamada à aventura, o encontro com mentores, o enfrentamento de desafios e a busca por transformação.
Assim, Jung contribuiu para a compreensão do mito do herói como uma jornada de crescimento pessoal e espiritual, e sua abordagem psicológica ajudou a conectar o conceito do mito do herói com a psicologia e o processo de individuação.
Além do mito do herói, Jung trabalhou com uma variedade de outros mitos em suas teorias. Jung acreditava que os mitos são expressões simbólicas do inconsciente coletivo da humanidade e que cada cultura tem sua própria coleção de mitos que refletem seus valores, crenças e experiências.
Aqui estão alguns exemplos de outros mitos que Jung trabalhou:
· Mito da Grande Mãe: Jung viu a Grande Mãe como um arquétipo que representa a natureza feminina e o princípio da fertilidade e nutrição. Ele argumentou que a Grande Mãe está presente em muitas culturas e é uma expressão do inconsciente coletivo.
· Mito do Self: Jung acreditava que o Self é um arquétipo que representa a totalidade da personalidade e que inclui tanto o consciente quanto o inconsciente. Ele viu o Self como um ideal a ser alcançado na busca pela individuação.
· Mito do Sacrifício: Jung viu o mito do sacrifício como uma expressão simbólica do processo de renúncia e transformação que ocorre durante a jornada da individuação.
· Mito do Renascimento: Jung acreditava que o mito do renascimento é uma expressão simbólica da necessidade humana de renovação e transformação pessoal, e que a morte e o renascimento são temas comuns em muitos mitos e religiões.
· Mito do Arquétipo das sombras: Jung acreditava que as sombras são os aspectos reprimidos ou ignorados da personalidade e que podem ser integrados para promover o crescimento pessoal e a transformação. Ele desenvolveu uma técnica chamada "confrontação com a sombra" para ajudar as pessoas a trabalharem com esses aspectos sombrios da personalidade.
Esses são apenas alguns exemplos dos muitos mitos que Jung trabalhou em suas teorias. Para Jung, o estudo dos mitos é uma maneira de entender as forças arquetípicas que influenciam a psique humana e que podem ser usadas para promover o crescimento pessoal e a transformação.
O MITO DO HERÓI NA TERAPIA
Um dos principais objetivos da terapia é ajudar as pessoas a se tornarem mais conscientes de si mesmas, de seus padrões de pensamento e comportamento, e dos obstáculos internos que impedem o seu desenvolvimento pessoal. A jornada do herói pode ser vista como um processo de autodescoberta, em que o herói enfrenta seus medos e limitações, supera obstáculos e se transforma em uma pessoa mais completa e realizada.
Os terapeutas podem ajudar seus pacientes a identificar as crenças e padrões de comportamento que estão limitando seu crescimento pessoal, e a encontrar maneiras de superar esses obstáculos. Eles também podem ajudar os pacientes a explorarem seus mitos pessoais, buscando significado e propósito em suas experiências e promovendo a integração de aspectos reprimidos ou ignorados de si mesmos.
Além disso, a terapia pode fornecer um ambiente seguro e de apoio para o processo de mudança e transformação pessoal, encorajando o paciente a tomar riscos, experimentar coisas novas e enfrentar seus medos e desafios.
Em resumo, a terapia pode ajudar as pessoas a trabalharem com a jornada do herói para promover o crescimento pessoal e a transformação, desenvolvendo uma maior consciência de si mesmas, superando obstáculos e encontrando significado e propósito em suas vidas.
REFERÊNCIAS
CAMPBELL, J. O Herói de Mil Faces. São Paulo: Pensamento, 2007
JUNG, C. G. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. Petrópolis: Vozes, 2000.
JUNG, C. G. O Homem e seus Símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014.
MURDOCK, Maureen. A jornada da heroína: a busca da mulher para se reconectar com o feminino. 1ª ed. São Paulo: Editora Cultrix, 2022.
