"Estou me sentindo desmotivado, acho que é minha depressão aparecendo; Acho que tenho TDAH, não consigo prestar atenção em nada; A minha ansiedade está forte hoje; Acho que sou autista, pois minha bateria social é muito pequena”
Você certamente já ouviu frases como essas ou muito parecidas, talvez até mais do que gostaria. Em um mundo onde a informação está a um click de distância, um fenômeno perigoso cresce de forma avassaladora: o autodiagnóstico em saúde mental, baseado em vídeos curtos das redes sociais e buscas rápidas no Google, sem falar do uso de inteligência artificial (IA), para conseguir esse diagnóstico.
Percebemos um aumento significativo da população na procura de tratamentos psicológicos, assim como sua curiosidade sobre os diversos transtornos dentro dessa área, a princípio isso é algo muito bom.
No entanto, essa prática de se rotular sem a avaliação de um especialista carrega riscos significativos. Vamos entender por que o autodiagnóstico pode ser um “tiro no próprio pé” e qual o melhor caminho a se seguir.
O Que Realmente é um Diagnóstico?
Vamos por partes, primeiro precisamos entender que um diagnostico não é um checklist dos sintomas que estão escritos nos manuais, ou apenas um senso comum do diagnóstico. Na realidade é um processo complexo e cuidadoso, conduzido por um profissional qualificado, como um psicólogo ou psiquiatra.
Essa avaliação leva em conta:
- Sinais e sintomas: Apresentados pelo paciente ou por terceiros, ou aferidos por bases de testes padronizados e validados.
- Fatores contextuais: O ambiente, a cultura e o momento de vida do indivíduo, e como ele se relaciona a eles.
- Histórico pessoal: Experiências passadas e condições de saúde.
Um diagnóstico não é um rótulo definitivo, mas sim um instrumento científico. Ele serve como um guia para orientar o tratamento, entender o prognóstico e facilitar a comunicação entre os profissionais de saúde.
Ao se autodiagnosticar com base em um post, em uma resposta de inteligência artificial, ou até mesmo por comentários de amigos ou conhecidos em um bate papo do “Discord”, você está fazendo um jogo perigoso, simplificando um processo que exige análise técnica, individualizada e criteriosa.
Os 5 Maiores Perigos do Autodiagnóstico
Ainda está com dúvidas? Aqui estão os principais motivos pelos quais essa prática é tão arriscada:
1. O Risco do Diagnóstico Errado
Muitas condições psicológicas têm sintomas sobrepostos ou aparecem em mais de um transtorno. Emoções como tristeza, ou comportamentos de dificuldade de concentração e inquietação, percepção de um sentimento de vazio, por exemplo, podem aparecer em um transtorno depressivo, em um transtorno de ansiedade ou no TDAH, ou em Transtornos de Personalidade. Apenas um profissional treinado consegue fazer o diagnóstico diferencial correto, distinguindo uma condição da outra e evitando erros graves.
2. A Porta Aberta para a Automedicação
Acreditar ter um transtorno, como o TDAH, ou TAG, pode levar uma pessoa a buscar tratamentos inadequados e perigosos. O uso de medicamentos controlados ou não sem prescrição pode causar efeitos colaterais severos, dependência química e psicológica, e até mesmo pode agravar o quadro clínico original. Sem falar que o tratamento medicamentoso precisa ser acompanhado com um profissional adequado e qualificado, mesmo que seu oftalmologista possa recitar sua medicação ele não se especializou tanto quanto um psiquiatra ou um neurologista clínico, em outras palavras existe diferenças entre um engenheiro civil e um engenheiro mecânico.
Outro ponto que precisa ser abordado é que em certos casos ou diagnósticos as evidências mostram que o tratamento psicológico é mais eficaz do que o tratamento medicamentoso.
3. O Atraso do Tratamento Correto
Quanto antes um paciente recebe o diagnóstico e o tratamento adequados, maiores são as chances de recuperação e remissão dos sintomas. O autodiagnóstico atrasa a busca por ajuda profissional, fazendo com que a pessoa perca um tempo precioso que poderia ser usado para sua melhora.
4. Geração de Sofrimento Emocional Desnecessário
Um diagnóstico incorreto pode gerar uma “bola de neve” de sofrimento, como por exemplo, pensamentos negativos ou pessimistas sobre o futuro, necessidade de justificar ou até mesmo não procurar aprender habilidades diante das suas dificuldades, medo de uma condição que talvez você não tenha, e uma sensação de desesperança e impotência. É um peso emocional que ninguém deveria carregar sem necessidade.
5. O Paradoxo do Estigma
Primeiramente, a conversa aberta sobre saúde mental parecia positiva para reduzir os preconceitos ou estereótipos. No entanto, a banalização de transtornos ("hoje todo mundo diz que tem algo") está começando a gerar o efeito oposto: o descrédito. Pessoas que realmente enfrentam transtornos do neurodesenvolvimento ou graves ou condições podem ser vistas com preconceito ou ter sua condição invalidada, o que é um retrocesso imenso, diante de tanto luta em busca acessibilidade, equidade e inclusão.
O Lado Bom da Informação e o Caminho Certo
É claro que buscar informação e entender mais sobre o sofrimento emocional e seus dilemas têm seu valor. A estimulação em discutir esses temas em conversas pode ser o primeiro passo para que alguém perceba que precisa de ajuda.
O problema não é a busca em si, mas o que você faz com o resultado. Use as informações da internet e das redes sociais como um ponto de partida para uma conversa com um especialista, e não como um veredito.
Se você se identifica com sintomas que vê online ou que muitas das pessoas que você convive tem ou dizem que tem, não se rotule. Faça algo muito mais poderoso: procure ajuda profissional. Um psicólogo ou psiquiatra poderá ouvir sua história, orientar qual a melhor forma de aferir sua condição, fazer uma avaliação completa e, se for o caso, encaminhar você para o tratamento adequado e baseado em evidências.
A sua saúde mental é valiosa demais para ser deixada nas mãos de um algoritmo.
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