Introdução
Imagine desabafar suas angústias mais profundas com um interlocutor que nunca se cansa, disponível 24 horas por dia. Agora, imagine que esse interlocutor é um algoritmo. A inteligência artificial (IA) já é uma realidade na saúde mental, atuando tanto no suporte a profissionais quanto como fonte direta de acolhimento. A dúvida que fica “no ar” é: estamos diante de um avanço revolucionário para o bem-estar ou de um risco silencioso com consequências invisíveis? Neste artigo, mergulhamos nas pesquisas e na visão de especialistas para desvendar os dois lados dessa moedaVantagens da IA na Saúde Mental
Vantagens e Benefícios
Apesar de muitos colegas psicólogos ou profissionais da área da saúde não gostarem muito das Ias temos que reconhecer os avanços significativos que a IA oferece à saúde mental — desde o acesso facilitado até a personalização dos cuidados. Abaixo você verá uma lista dos principais pontos dessas vantagens e benefícios, e ao mesmo tempo considerações sobro uso delas:
1 - Acesso imediato e contínuo (24/7):
Ferramentas como chatbots oferecem suporte emocional imediato a qualquer hora do dia, o que pode ser crucial em momentos de crise ou em regiões com poucos profissionais. Ela não tem uma jornada de trabalho, então em um primeiro momento ela pode ser usada para auxiliarem lidar com os primeiros momentos da crise, contudo ela não substitui o manejo e a causa da crise.
Como aponta Vitor Martini (2023), algoritmos podem ajudar na triagem e detecção de padrões — desde que sejam usados com critérios éticos e sensibilidade clínica. No entanto, quando usados sem reflexão, podem induzir vieses e oferecer respostas técnicas onde o cuidado exige afeto e escuta.
2 - Redução do estigma e garantia de anonimato:
Muitas pessoas se sentem mais seguras para desabafar com uma IA do que com um profissional humano, por medo de julgamento. Vimos que com o avanço nos atendimentos online barreiras foram quebradas justamente por causa da interação presencial que para algumas pessoas era ou ainda é um grande desafio, mas lembrando que o profissional da psicologia, está capacitado a oferecer uma escuta ativa, e o ambiente terapêutico deve ser construído, em um vínculo baseado em respeito e não julgamento, pois a pessoa não estará diante de um amigo ou um colega de trabalho, que baseia sua fala através da sua opinião ou de crenças.
3 - Personalização e engajamento no tratamento:
Algoritmos podem sugerir intervenções sob medida, como exercícios de TCC, meditação ou conteúdos psicoeducativos, só tomem cuidado pois nem toda a técnica serve para qualquer demanda ou pacientes, inclusive apesar de existir protocolos para cada demanda, o olhar e a expertise do(a) profissional ao longo do tratamento vai ser o diferencial para o progresso e eficácia, pois ele(a) vai avaliar se a técnica ou condução do protocolo está sendo assertiva ou se precisa fazer alterações, ou seja para cada paciente é construído um plano terapêutico diferenciado, mesmo que os pacientes tenham a mesma diagnostico.
4 - Acessibilidade financeira e geográfica:
A IA torna o suporte emocional mais acessível para pessoas em áreas remotas ou com baixa renda. Isso é mesmo um diferencial, apesar de que já se tem alternativas para conseguir tratamento qualificado mesmo diante de uma vulnerabilidade econômica, ou distanciamento geográfico.
5 - Apoio ao diagnóstico e análise preditiva:
A IA pode identificar padrões sutis na linguagem, comportamento ou exames. Isso está sendo um grande avanço, pois assim pesquisas podem ser geradas com mais facilidade e com menores taxas de erros, pois as Ias podem perceber detalhe sutis que talvez o “crivo” humano não tenho percebido.
6 - Automação de tarefas e ganho de tempo clínico:
Desde agendamentos até transcrição de sessões, a IA libera os profissionais para focar no atendimento humano. Com essa automação como as transcrições em tempo real, facilita o foco do terapeuta nas dinâmicas sem necessariamente precisar ficar fazendo anotações que podem fazer com que o mesmo “desaqueça” durante alguma técnica terapêutica.
7 - Monitoramento entre sessões e prevenção de recaídas:
Aplicativos com IA e dispositivos vestíveis podem alertar terapeuta e paciente sobre sinais de recaída. Um dos grandes recursos que facilitam o monitoramento e a mensuração dos sintomas em certos casos, um bom exemplo é os aplicativos para monitorar o humor da pessoa que tem o Transtorno Afetivo Bipolar, conseguindo perceber se está ou não em algum episódio.
8 - Recursos terapêuticos inovadores (como Realidade Virtual):
A IA pode personalizar experiências com Realidade Virtual para tratamento de fobias ou TEPT. Sem falar em usos em outros espaços como avaliação de competências técnicas no processo de recrutamento e seleção.
Riscos e Limites Éticos
Apesar dos benefícios, há limites importantes que precisam ser considerados. Veja abaixo uma lista dos principais riscos e perigos do uso inadequado dessa ferramenta, assim como concepções de sua função em comparação no manejo clínico humanizado.
1 - O uso da IA como “terapia”
Segundo a Talk Inc (2024), 1 em cada 10 brasileiros já usou um chatbot de IA para desabafar ou simular uma conversa terapêutica. O Brasil é o 4º país que mais utiliza o ChatGPT no mundo (Forbes, 2024). Esses sistemas oferecem respostas rápidas, funcionam 24h por dia e não julgam. Mas, como destaca a CARE no artigo “Limites da IA na psicoterapia” (2025), essa busca está muitas vezes ligada à solidão emocional e à dificuldade de estabelecer vínculos reais.
Manter esse padrão de isolamento não ajuda no tratamento ou na criação de habilidades, pois o terapeuta pode auxiliar na criação delas, sendo o primeiro contato seguro para a exposição e desmistificação de crenças distorcidas ou disfuncionais.
2 - Mas a IA ouve com empatia?
A resposta é não, pois a IA diante dos seus algoritmos consegue classificar e responder a partir dos padrões da fala, e dar respostas diante daquele padrão usando a sua base de dados como referência. Ouvir não é o mesmo de compreender, são os profissionais de saúde que acolhem o sofrimento e/ ou as dores silenciosas.
3 - Risco no manejo de crises:
Como supracitado a IA é uma grande aliada nos primeiros momentos da crise, contudo, ela não trabalha a causa da crise, ou seja ela não vai lhe ajudar a tratar a raiz do problema ela pode ajudar em como lidar ou tolerar, contudo, isso tambem pode ser usado como uma esquiva experiencial em outros momentos, não ajudando no tratamento em si.
A psicóloga Marina da Silveira Rodrigues Almeida (2025) ressalta que as IAs devem ser programadas para identificar sinais de crise e redirecionar para ajuda humana. Uma IA tentando 'resolver' sozinha situações como ideação suicida pode gerar graves consequências.
Uma falha nesse reconhecimento ou até mesmo o uso constante da ferramenta para esse manejo, apontando uma dependência, se torna um risco preocupante, nesse sentido se faz necessário os desenvolvedores e não somente os usuários fazerem melhorias no encaminhamento ou alertas diante de quadros graves ou de risco iminente.
4 - Vieses e desigualdade no cuidado
Outro risco é o viés algorítmico. Martini (2023) alerta que algoritmos mal calibrados podem tratar de forma desigual grupos raciais, etários ou socioeconômicos, reproduzindo injustiças históricas no cuidado em saúde. Isso é especialmente perigoso em uma área tão sensível quanto a saúde mental.
Conclusão:
A IA pode ser útil. Pode ampliar o acesso, agilizar processos e até oferecer apoio inicial em locais remotos. Mas não substitui o vínculo humano. Psicoterapia envolve nuance, ética, silêncio, presença — e isso nenhuma máquina consegue replicar.
Diante disso, fica um questionamento, nesse nosso mundo globalizado e tecnológico, instantâneo, ao utilizarmos das a IA estamos fazendo o cuidado e tratamento da nossa saúde mental, nossas dores “invisíveis “, ou apenas estamos procurando respostas rápidas, sem dedicação?
Minha resposta é que nesse mundo tenhamos mais contato, presença, relações humanas, vamos utilizar as a IA como ferramenta de auxílio no tratamento, e não como um método de tratamento. Inclusive utilizei para elaborar esse artigo IA, como forma de suporte de edição e de auxílio na formatação, contudo a construção e discussão foi de minha autoria.
Referências
- CARE. Limites da IA na psicoterapia. Editorial CARE, 2025.
- ALMEIDA, Marina da Silveira Rodrigues. Os riscos da inteligência artificial na saúde mental. Instituto Inclusão Brasil, 2025.
- MARTINI, Vitor Galioti. Análise de Equidade em Algoritmos de IA na área da Saúde. UNIFESP, 2023.
- MIT Technology Review Brasil; Exame; Terra; CRIA Incubator; Delta Med Consultórios; Correio Braziliense; Debates em Psiquiatria; PUCPR; VEJA Saúde; UpFlux; Dot.Lib; Talk Inc (2024); Forbes Brasil; OMS (2023).