Meu filho tem medo de errar: isso é um problema?
Algumas crianças parecem carregar uma lente interna que as faz duvidar de cada passo. “Tá certo assim?” “Você vai rir de mim?” “E se eu errar?”. Será que está tudo bem?

Algumas crianças parecem carregar uma lente interna que as faz duvidar de cada passo. “Tá certo assim?” “Você vai rir de mim?” “E se eu errar?” São perguntas que, muitas vezes, os adultos ouvem e acham que é só “frescura” ou “falta de confiança”. Mas, na Gestalt-terapia, a gente escuta essas falas como pistas preciosas de um funcionamento mais profundo.
Elas indicam algo simples, mas delicado: a criança se observa tanto que se impede de viver a experiência. É como se ela estivesse sempre se vigiando por dentro, tentando prever o que o outro vai pensar, buscando se ajustar o tempo todo. Ela não brinca para se divertir, ela brinca para “acertar”. Ela não desenha para expressar — ela desenha para ser aprovada.
Do ponto de vista técnico, esse movimento pode ser compreendido como uma interrupção no contato, uma das funções centrais na Gestalt-terapia. A criança, em vez de se lançar plenamente na experiência, internaliza a figura do “outro” e passa a se regular excessivamente pelo olhar externo. Esse processo, chamado de introjeção ou retroflexão, limita a espontaneidade e a criatividade, gerando rigidez e insegurança no desenvolvimento emocional.
Na clínica, a gente não força essa criança a “se soltar”. A gente constrói, com tempo e vínculo, um espaço seguro o bastante para que ela possa se esquecer de agradar e apenas ser. Brincar livremente, pintar com os dedos, errar sem culpa. Aos poucos, ela experimenta o prazer de existir sem se julgar. E esse contato verdadeiro é o que a transforma.
Por isso, quando sua filha parecer rígida demais, medrosa, ou perfeccionista, acolha com doçura. Isso não é fraqueza — é proteção. E, com o apoio certo, ela pode aprender a confiar. Em si mesma. Nos outros. E no mundo que está descobrindo.
Gostaria de entender melhor o que significam os comportamentos de seus filhos? Entre em contato, podemos conversar.
