Psicoterapia no TEA e TDAH: estratégias de apoio e desenvolvimento emocional.
A psicoterapia contribui para o desenvolvimento de habilidades sociais, regulação emocional e estratégias de enfrentamento em pessoas com TEA e TDAH, promovendo qualidade de vida e bem estar.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) representam duas das condições neuropsiquiátricas mais prevalentes na infância e adolescência. Ambas acarretam um impacto profundo e multifacetado no desenvolvimento neuropsicossocial, afetando a qualidade das interações sociais, o desempenho acadêmico e a estabilidade emocional dos indivíduos acometidos. Diante da complexidade sintomatológica, a psicoterapia, e em particular a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), surge como uma intervenção de primeira linha, fundamental para o manejo eficaz, oferecendo um arsenal de estratégias para o desenvolvimento de competências essenciais, promoção da regulação emocional e melhoria da capacidade de enfrentamento dos desafios inerentes ao cotidiano. No contexto específico do TDAH, caracterizado primariamente por desatenção, hiperatividade e/ou impulsividade, a TCC demonstra ser uma ferramenta poderosa para a modificação de padrões de pensamento e comportamento disfuncionais. O foco terapêutico concentra-se em técnicas que visam a redução da impulsividade e da hiperatividade motora, o aprimoramento da capacidade atencional sustentada e, crucialmente, o desenvolvimento de competências executivas, como organização, planejamento e gerenciamento do tempo. A TCC ajuda o indivíduo com TDAH a identificar os pensamentos automáticos negativos que frequentemente acompanham as falhas de desempenho e a substituí-los por cognições mais realistas e adaptativas. Estudos robustos indicam que esta abordagem não apenas contribui significativamente para a redução da sintomatologia central do transtorno, mas também promove melhorias substanciais na qualidade de vida percebida e no funcionamento social, especialmente quando implementada como parte de um plano de intervenção multidisciplinar. Para indivíduos no TEA, onde os desafios centrais residem na comunicação e interação social e na presença de padrões de comportamento, interesses ou atividades restritos e repetitivos, a TCC precisa ser meticulosamente adaptada. Esta adaptação visa estimular o desenvolvimento de habilidades sociais, aumentar a flexibilidade cognitiva – um ponto central para superar a rigidez de pensamento comum no espectro – e reduzir a frequência e intensidade de comportamentos desafiadores ou estereotipados. As adaptações técnicas são cruciais, frequentemente envolvendo a utilização proeminente de recursos visuais (como histórias sociais, schedules visuais), a linguagem extremamente concreta e a aplicação de técnicas de modelagem e role-playing para facilitar a compreensão dos conceitos abstratos e a generalização das aprendizagens para ambientes não terapêuticos. É fundamental reconhecer a alta taxa de comorbidade entre TEA e TDAH. Quando ambas as condições estão presentes, o perfil sintomatológico torna-se frequentemente mais complexo: a desatenção e a impulsividade do TDAH podem exacerbar as dificuldades de interação social do TEA, e a rigidez cognitiva do TEA pode dificultar a adesão às estratégias de autorregulação exigidas no TDAH. Nesses casos, a abordagem terapêutica deve ser ainda mais personalizada e integrativa. Isso implica em um desenho terapêutico que não apenas combine estratégias adaptadas da TCC (para cognição social, regulação e funções executivas) com a necessidade de estruturação e previsibilidade, mas que frequentemente incorpore princípios de outras terapias baseadas em evidências, como a Análise Comportamental Aplicada (ABA), especialmente nas fases iniciais do desenvolvimento de habilidades básicas. Em síntese, a psicoterapia, e notadamente a TCC, desempenha um papel central e insubstituível no suporte a indivíduos com TEA e TDAH. Seu foco na mudança de cognições e comportamentos visa diretamente a promoção da autonomia, do bem-estar emocional e do desenvolvimento de habilidades funcionais que são cruciais para uma participação plena na sociedade. Para que este suporte seja verdadeiramente eficaz, é imperativo que os profissionais de saúde mental possuam a capacidade técnica para adaptar as intervenções às necessidades neurodivergentes e individuais de cada paciente, assegurando um cuidado que assegure um cuidado que seja simultaneamente individualizado, humanizado e baseado em evidências científicas. A implementação de intervenções psicoterapêuticas com rigor técnico, combinada à compreensão profunda do perfil cognitivo e emocional de cada indivíduo, potencializa os resultados terapêuticos e promove a consolidação de habilidades que transcendem o ambiente clínico, impactando positivamente a vida familiar, escolar e social. Além disso, a integração de estratégias de psicoeducação para familiares e cuidadores fortalece a rede de apoio, favorecendo a manutenção dos ganhos terapêuticos no dia a dia. Dessa forma, a psicoterapia, quando aplicada de forma estruturada, adaptada e interdisciplinar, constitui uma ferramenta essencial para a promoção do desenvolvimento integral, da qualidade de vida e da autonomia de pessoas com TEA e TDAH, reafirmando a importância do cuidado especializado e contínuo na trajetória de indivíduos neurodivergentes.
