Quando a ansiedade começa a ocupar espaço demais: o que ela tenta comunicar?
E se a sua ansiedade não fosse inimiga, mas um aviso importante? E se ela for um pedido silencioso de cuidado? Talvez o que ela tenta dizer transforme a forma como você se entende.

A ansiedade costuma chegar devagar. Às vezes, aparece como um aperto no peito ao acordar. Outras, como aquela sensação constante de que algo vai dar errado, mesmo quando nada concreto está acontecendo. E, em muitos casos, ela vai se instalando silenciosamente no cotidiano — nos pensamentos acelerados, na dificuldade de descansar, na necessidade de prever o que é impossível controlar.
Muita gente tenta “lutar” contra esses sinais, como se fossem inimigos a serem vencidos, mas, na clínica psicanalítica, compreendemos a ansiedade como uma espécie de linguagem: uma tentativa do psiquismo de comunicar que algo dentro de nós está ficando pesado demais para carregar sozinhos.
A ansiedade no corpo: quando a emoção ocupa espaço físico
O corpo fala antes mesmo que possamos colocar em palavras. É comum que a ansiedade se manifeste de formas que parecem “apenas físicas”: insônia, tensão muscular, dores de estômago, cansaço que não passa, aceleração interna.
Sob uma perspectiva winnicottiana, essas manifestações não são exageros, mas alertas de que o nosso ambiente interno — aquilo que sentimos, pensamos e atravessamos — está precisando de sustentação. Quando não nos sentimos suficientemente amparados, o corpo assume a tarefa de avisar que algo dentro de nós está pedindo atenção.
A ansiedade, então, deixa de ser vista apenas como um sintoma e passa a se revelar como um pedido por um espaço mais seguro para existir.
Sinais de sobrecarga silenciosa
Muitas pessoas chegam ao consultório dizendo: “Não sei por que estou assim… era para eu estar bem”.
E é justamente aí que a ansiedade revela sua dimensão mais sutil: ela aparece quando atravessamos situações que nossa própria mente ainda não conseguiu reconhecer como difíceis.
Alguns sinais dessa sobrecarga silenciosa incluem:
Sentir-se “no limite”, mesmo sem um motivo aparente.
Perder o contato com os próprios desejos — vivendo apenas o que “precisa ser feito”.
Permanecer em estado de alerta, como se qualquer deslize fosse gerar problemas.
Ter dificuldade em dizer “não” ou em sustentar as próprias opiniões.
Comparar-se constantemente com os outros.
Não conseguir descansar sem sentir culpa.
Na clínica, esses sinais costumam indicar momentos em que o falso self está funcionando de maneira intensa — uma adaptação tão grande às expectativas externas que o gesto espontâneo, aquilo que é mais verdadeiro em nós, começa a perder espaço.
A ansiedade, nesses casos, surge como um marcador: alguma parte de nós está sendo deixada de lado.
A ansiedade como pedido de cuidado
Na psicanálise, especialmente a partir de Winnicott, compreendemos que a ansiedade não é um simples “excesso”, mas um indicativo de que alguma parte nossa está pedindo para ser vista, nomeada e acolhida.
Ela pode expressar:
um medo antigo que volta a se movimentar,
um ambiente que exige mais do que conseguimos oferecer,
uma história interna que ainda não encontrou escuta,
uma vivência que ultrapassou nossos recursos emocionais.
Quando a ansiedade começa a ocupar espaço demais, ela não está ali para nos atrapalhar — está tentando nos chamar de volta. É um convite para reencontrar algo que, talvez, não conseguimos sustentar sozinhos.
O que pode acontecer no processo terapêutico
No atendimento clínico, o objetivo não é eliminar a ansiedade, mas construir um ambiente onde ela possa ser compreendida. Aos poucos, a pessoa vai encontrando palavras para sentimentos antigos, identificando seus limites, reconhecendo suas necessidades e construindo formas mais próprias de se relacionar consigo e com o mundo.
É como se, ao longo da jornada terapêutica, o excesso fosse ganhando contorno. A vida interna se reorganiza. A respiração encontra outro ritmo. E o que antes parecia apenas um sintoma começa a fazer sentido dentro da história de cada pessoa.
Se a ansiedade tem atravessado o seu cotidiano, tomado espaço demais ou dificultado sua relação consigo mesma, talvez seja o momento de oferecer a si um lugar seguro para falar sobre isso.
A terapia pode ser esse espaço.
