Transtorno de Despersonalização/Desrealização: Bases Diagnósticas, Sintomas e Abordagem da Terapia Cognitiva Comportamental
O transtorno de DP/DR envolve sensação de irrealidade de si e do ambiente. Gatilhos incluem estresse e ansiedade. A TCC ajuda com Psicoeducação, Grounding e regulação dos sintomas dissociativo

Transtorno de Despersonalização/Desrealização: Bases Diagnósticas, Sintomas e Abordagem da Terapia Cognitiva Comportamental
O Transtorno de Despersonalização/Desrealização (DP/DR) é classificado pelo DSM-5 entre os transtornos dissociativos e descrito na CID-11 como uma perturbação persistente ou recorrente na experiência subjetiva do self (o eu integral no ambiente), e da realidade externa (sensório percepção). Caracteriza-se por episódios em que o indivíduo percebe a si mesmo como distante (externalizado do corpo), desconectado ou observador externo do próprio corpo (despersonalização), ou percebe o ambiente como irreal, artificial, distorcido ou visualmente empobrecido, com percepção temporal alterada (desrealização).
No DSM-5, o transtorno é descrito como episódios persistentes de sensação de irrealidade do self ou do ambiente, por episódio de trauma, por ruptura abrupta da realidade, por outras condições médicas, transtornos mentais ou pelo uso de substâncias. A CID-11 descreve fenômeno semelhante, enfatizando a continuidade da consciência e o caráter dissociativo da experiência, associada a impacto significativo na vida pessoal, social e ocupacional. Entre os sintomas frequentemente relatados encontram-se sensação de anestesia emocional, percepção alterada do corpo, distorções sensoriais, sensação de estar em “automático”, além de vivência do mundo externo como distante, plano ou semelhante a uma cena cinematográfica.
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma das abordagens com maior respaldo clínico para o manejo do transtorno. A intervenção inclui Psicoeducação sobre a natureza dos sintomas dissociativos, diminuição de crenças catastróficas ligadas às experiências (“vou enlouquecer”, “vou perder o controle”), identificação de gatilhos cognitivos e emocionais, técnicas de Grounding sensorial, estratégias de regulação fisiológica e práticas de atenção plena orientadas ao foco no presente. Outro aspecto central é o manejo da evitação (internas e externas), que tende a perpetuar o quadro, além do desenvolvimento de habilidades de enfrentamento para situações de estresse.
No cotidiano, o indivíduo pode ser acometido pelos sintomas em diferentes contextos, como: (1) situações de estresse laboral intenso; (2) conflitos interpessoais; (3) sobrecarga acadêmica; (4) privação de sono; (5) momentos de ansiedade no trânsito; (6) exposição a ambientes hiper estimulantes; (7) períodos de introspecção prolongada; (8) situações de ansiedade social; (9) uso excessivo de substâncias estimulantes, como cafeína; (10) vivências de ameaça percebida ou insegurança emocional. Essas circunstâncias podem funcionar como gatilhos fisiológicos e cognitivos, aumentando a vulnerabilidade dissociativa.
A aplicação consistente da TCC possibilita redução da intensidade e frequência dos episódios, fortalecimento do senso de presença e maior estabilidade emocional. Ao compreender o funcionamento do transtorno e intervir nas interpretações disfuncionais que mantêm o ciclo dissociativo, o indivíduo desenvolve maior autonomia, diminuindo o medo das crises e ampliando sua capacidade de manejo no cotidiano. Assim, a abordagem cognitivo-comportamental constitui uma estratégia eficaz para promover bem-estar psicológico e restaurar o sentido de continuidade do self.
Referências
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World Health Organization. International Classification of Diseases 11th Revision (ICD-11): Disorders specifically associated with stress. Geneva: WHO, 2019.
Hunter, E. C., Baker, D., Phillips, M. L., & Sierra, M. Depersonalization and Derealization: Assessment and Clinical Management. Cambridge University Press, 2017.
Sierra, M., & Berrios, G. E. The Phenomenology of Depersonalization. Psychiatry Research, 2001.
Beck, J. S. Terapia Cognitivo-Comportamental: Teoria e Prática. Porto Alegre: Artmed, 2013.
Holmes, E. A., Brown, R. J., Mansell, W. et al. “Are there two qualitatively distinct forms of dissociation? A review and a new model.” Clinical Psychology Review, 2005.
