Existe um tempo certo para a cura no processo de psicoterapia?
Como o progresso dentro da terapia tem sido medido, em uma época que exige a todo instante que estejamos sempre produzindo mais?
Como o progresso dentro da terapia tem sido medido, em uma época que exige a todo instante que estejamos sempre produzindo mais?

Muitas pessoas, em algum momento da terapia, sentem que não estão avançando como esperavam. É comum surgir a impressão de que “já era para eu estar melhor”, ou que uma recaída significa que todo o esforço foi perdido. Nesses momentos, parece que estamos andando em círculos, presos no mesmo lugar, sem progresso visível.
Essa sensação costuma estar ligada a expectativas que não são exatamente nossas. Sem perceber, vamos criando metas e prazos baseados no que ouvimos dos outros, no que vemos nas redes sociais ou no que a sociedade define como “ideal”. E, quando não alcançamos esses padrões, nasce a angústia: Será que estou demorando demais? Será que meu processo está dando certo?
Mas existe um “tempo certo” para lidar com os próprios sofrimentos?
A psicoterapia parte de um princípio fundamental: cada sujeito é único. Cada pessoa possui sua história, seus recursos emocionais, suas defesas e seu modo particular de lidar com a própria dor. Por isso, não faz sentido comparar processos ou estabelecer um padrão de velocidade para a cura.
O tempo da terapia não é o tempo do calendário: é um tempo vivido, marcado por avanços, pausas, idas e vindas. Não é linear, e nem precisa ser.
Recaídas, por exemplo, não significam fracasso. Elas fazem parte da elaboração emocional e, muitas vezes, abrem caminhos importantes para novas compreensões.
Na prática clínica, valoriza-se não apenas o ponto de chegada, mas todo o percurso: os insights pequenos, os deslocamentos internos, a construção gradual de novas formas de ver a si mesmo e o mundo.
Para entender por que nos cobramos tanto na terapia, vale olhar para um fenômeno que o filósofo Byung-Chul Han chama de “sujeito produtivo”, no livro A Sociedade do Cansaço.
Ele descreve como, nas sociedades atuais, vivemos sob uma pressão constante para sermos eficientes, para mostrar resultado e para estarmos sempre “performando” bem: no trabalho, nos relacionamentos e até no cuidado de si.
Não é mais necessário que alguém nos cobre. Nós mesmos fazemos isso.
E essa autovigilância chega também ao espaço terapêutico.
Passamos a acreditar que precisamos melhorar rápido; superar sintomas de forma linear; apresentar progresso visível; “dar conta” das questões emocionais como se estivéssemos cumprindo metas de um projeto.
A lentidão vira sinal de fracasso. A oscilação vira defeito. O silêncio vira perda de tempo.
Mas terapia não funciona nesses termos, pois a saúde mental não é e não deve ser um campo de produtividade. É um campo de experiência, de elaboração e de compreensão profunda de si.
Embora objetivos e ajustes sejam parte importante da terapia, o processo não deve ser reduzido a um caminho entre “problema” e “solução”. A relação terapêutica é construída com base em sentido, não em velocidade.
É nela que se descobre:
o que realmente importa para aquele sujeito;
quais caminhos são possíveis naquele momento;
onde há resistência e onde há abertura;
o que precisa ser revisto e o que precisa ser sustentado.
Isso também é cura, e cada etapa acontece no tempo que o sujeito pode, consegue e suporta viver.
Nem toda mudança aparece como um grande marco. Frequentemente, os movimentos mais significativos no processo terapêutico são sutis, quase imperceptíveis no dia a dia: uma nova forma de reagir a uma situação difícil, capacidade de nomear melhor uma emoção, a coragem de falar sobre algo pela primeira vez, uma escolha um pouco mais alinhada com o que se sente...
São “passos de formiga”, mas são passos importantes, e constroem, pouco a pouco, uma transformação sólida.
Na terapia, o valor está no movimento, não na velocidade. Cada sujeito tem o direito (e a necessidade) de viver o seu próprio tempo de cuidado.
Psicóloga - CRP 05/81404
Prazer, Amanda! Sou psicóloga clínica e psicoterapeuta, orientada pela fenomenologia-hermenêutica, e entendo a psicotera...
Ver Perfil Completo