Por que não existem respostas prontas na psicoterapia: autonomia, desamparo e o papel do terapeuta
Como a psicoterapia pode ajudar o sujeito a diferenciar o que é seu do que foi imposto, fortalecer sua autonomia e construir um modo de viver mais autêntico?

É comum que muitas pessoas procurem a psicoterapia acreditando que ela seja um espaço de aconselhamento, ou seja, um lugar onde o psicólogo dirá o que fazer, apontará caminhos e oferecerá respostas prontas. Outras pessoas chegam com a expectativa de que “vão se conhecer melhor”, como se o processo terapêutico fosse uma descoberta orientada por um especialista que enxergaria verdades ocultas sobre quem elas são.
Embora compreensíveis, essas ideias geram uma idealização equivocada do papel do terapeuta, que passa a ser visto como alguém que detém todas as respostas para as questões do paciente. Isso não apenas distorce o propósito da psicoterapia, como também reforça a sensação de incapacidade e dependência emocional.
O sujeito em sofrimento e o desamparo
Quando alguém busca terapia, geralmente encontra-se em um momento de desorganização, confusão ou dor. Há um sentimento de desamparo: a sensação de estar perdido em meio às próprias experiências e de não conseguir, naquele momento, sair sozinho daquela situação.
Mas isso não significa que o terapeuta irá fornecer soluções prontas. Apenas o próprio sujeito pode encontrar as respostas que precisa, e é exatamente isso que torna o processo terapêutico transformador.
Quando não podemos ser quem somos: introjeções, submissões e perda de autenticidade
A angústia e o desamparo muitas vezes surgem quando o sujeito é impedido de ser quem é, seja por expectativas familiares, sociais, morais, culturais ou até mesmo internas. Crescemos absorvendo mandatos, crenças e padrões que nem sempre são nossos. São as chamadas introjeções: conteúdos que incorporamos sem reflexão crítica.
Quando vivemos a partir dessas referências externas, perdemos contato com nossas próprias necessidades e desejos. Ficamos presos a crenças rígidas e formas cristalizadas de viver que não foram escolhidas, mas assumidas como verdades.
Isso nos impede de nos relacionar com o mundo de forma autêntica, isto é, considerando o que realmente é saudável e significativo para nós.
O papel da psicoterapia: refletir, questionar, integrar
A função da psicoterapia não é dizer o que o sujeito deve fazer, mas criar um espaço seguro e acolhedor para que ele possa questionar, refletir e integrar suas próprias necessidades.
É nesse processo investigativo que o sujeito passa a diferenciar:
o que é dele e o que foi imposto;
o que faz sentido e o que produz sofrimento;
o que precisa ser mantido e o que pode ser transformado.
Chamamos esse movimento de desenvolvimento de autossuporte: a capacidade de o sujeito criar e sustentar seus próprios recursos internos, deixando de depender de orientações externas para se posicionar diante da vida. É, em suma, aprender a “andar com as próprias pernas”.
Acolher não é decidir pelo outro
Isso não significa abandonar o paciente à própria sorte. O terapeuta oferece suporte, escuta qualificada e um ambiente suficientemente seguro para que o paciente possa se arriscar emocionalmente e explorar novas possibilidades de ser.
No entanto, um ponto crucial do trabalho clínico é discernir entre acolher, que favorece o desenvolvimento da autonomia; e responder pelo sujeito, que cria dependência e impede o crescimento.
Respostas prontas funcionam como atalhos que, em vez de ajudar, reforçam a crença de que o paciente não é capaz de decidir por si. Acabam reproduzindo exatamente o tipo de submissão e heteronomia que contribuíram para o sofrimento inicial.
Não há fórmulas para uma vida saudável
A vida não se conduz por manual. Não existe uma fórmula universal sobre como viver, escolher ou sentir. Cada sujeito cria seus significados no próprio ato de viver. E a psicoterapia funciona como um catalisador, um espaço que facilita essa construção.
A protagonista desse processo, porém, é sempre a mesma: a própria pessoa.
O terapeuta acompanha, sustenta, questiona, amplia horizontes, mas quem trilha o caminho, quem encontra sentido e quem toma decisões é o sujeito que vive sua própria experiência.
