Entre o ser e o dever-ser: o desafio da autenticidade
Uma reflexão sobre a construção da identidade, o autoconhecimento e a coragem de ser quem realmente somos.
Uma reflexão sobre a construção da identidade, o autoconhecimento e a coragem de ser quem realmente somos.

A construção da identidade é um processo contínuo e muitas vezes desafiador. Desde o momento em que nascemos, somos inseridos em grupos sociais e culturais que moldam, de diferentes maneiras, a forma como nos vemos e como o mundo nos vê. A sociedade, com suas normas e expectativas, exerce uma pressão constante sobre o indivíduo, definindo padrões de comportamento, valores e papéis que muitas vezes não refletem a verdadeira essência de quem somos. Somos constantemente influenciados pelo que nos é imposto – seja pela família, pela cultura ou pelas convenções sociais. No entanto, o autoconhecimento e a criação da própria identidade vão além dessas imposições externas. Como Nietzsche nos provoca com a frase "Torna-te o que tu és", uma citação de Píndaro, somos desafiados a nos apropriar de nossas próprias forças e talentos, a não nos deixarmos definir por valores preexistentes, mas sim a criar nossos próprios caminhos. Esse chamado à autonomia exige coragem, pois implica desafiar padrões estabelecidos e aceitar o risco de sermos quem realmente somos, em um mundo que muitas vezes exige que nos conformemos. Definir a si mesmo, portanto, é um ato de autossuficiência. Não se trata de seguir moldes preexistentes, mas de explorar e integrar nossas múltiplas facetas, reconhecendo nossas contradições, nossas vulnerabilidades e, também, nossas potências. Essa jornada de autodescoberta é marcada por constantes escolhas e renovações, pois a identidade não é algo fixo, mas algo que se constrói ao longo do tempo, à medida que vivemos e fazemos escolhas conscientes. A autoconsciência, nesse processo, é essencial. Ela nos permite compreender nossas ações, desejos e medos, e é fundamental para o desenvolvimento pessoal e para a construção de um sentido de vida. Quando nos tornamos mais conscientes de nossas emoções e motivações, ganhamos a capacidade de tomar decisões mais autênticas e alinhadas com nosso verdadeiro eu, em vez de reagir de acordo com as expectativas externas. Isso não apenas nos ajuda a construir uma identidade mais forte, mas também nos permite viver com maior propósito e clareza. Tornar-se o que somos exige, também, uma resistência interna: resistir à pressão externa que tenta nos encaixar em normas prontas e pré-estabelecidas. Essa jornada envolve questionamentos, desafios e momentos de dúvida, mas também oferece a possibilidade de viver com autenticidade. O convite de Nietzsche nos desafia a sair da superfície das expectativas e a mergulhar no profundo de nossa própria essência, criando, assim, uma vida pautada pelo que realmente acreditamos e desejamos.
Psicóloga - CRP 12/27645
Bianca dos Santos é psicóloga (CRP 12/27645), mulher cisgênero e branca, cuja trajetória é marcada pela busca constante ...
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