Ser escolhida: o silêncio que molda as mulheres
“A cultura patriarcal nos ensina que o amor é algo a ser conquistado, quando na verdade é algo a ser vivido.”

Desde cedo, muitas mulheres aprendem — nas entrelinhas da cultura, nas histórias que ouvem e nos exemplos que veem — que o amor é algo a ser conquistado. Que o valor está em ser desejada, aceita, validada. Que o reconhecimento vem quando alguém a enxerga e a escolhe.
A menina cresce, então, aprendendo a se observar pelos olhos dos outros. Aprende a moderar a voz, a conter o corpo, a caber no espaço que lhe é permitido. Aprende que ser “boa” é ser agradável, que o afeto é recompensa, que o amor precisa ser merecido. E, assim, vai se afastando de si mesma, acreditando que o sentido da sua vida está sempre do lado de fora.
Mas ser mulher não deveria significar viver sob o olhar do outro. O verdadeiro despertar acontece quando ela percebe que pode se escolher — que o sentido da sua vida não precisa nascer do desejo alheio, mas da sua própria vontade de existir, de criar, de ser.
Reivindicar esse lugar é romper com séculos de narrativas que associaram o amor feminino à obediência, à espera, à doçura sem limite. É entender que o amor não é salvação — e que ser escolhida nunca deveria valer mais do que escolher a si mesma.
bell hooks nos lembra que “o amor não pode existir onde há dominação.” E talvez seja justamente isso que tantas mulheres descubram: que o amor verdadeiro não nasce da aprovação, mas da liberdade. Amar a si mesma, nesse contexto, torna-se um ato político — uma forma de romper com os ensinamentos que associaram o feminino à docilidade e à fragilidade.
Há força em não precisar provar nada, em se permitir ser inteira, mesmo quando o mundo ainda insiste em medir o valor das mulheres pela aprovação que recebem.
Porque, no fim, talvez a liberdade comece exatamente ali: no momento em que ela se olha no espelho e, pela primeira vez, diz — “eu me escolho.”
