Pequenas revoluções: quando agradar deixa de ser liberdade
“Ser nós mesmas faz com que sejamos exiladas por muitas outras pessoas. Ser falsas faz com que sejamos exiladas de nós mesmas.” — Clarissa Pinkola Estés
“Ser nós mesmas faz com que sejamos exiladas por muitas outras pessoas. Ser falsas faz com que sejamos exiladas de nós mesmas.” — Clarissa Pinkola Estés

Desde muito cedo, muitas mulheres aprendem — ainda que sem palavras — a serem agradáveis. A falar com cuidado, a sorrir mesmo quando não querem, a aceitar o que foi dito para não parecerem “difíceis”, “sensíveis demais” ou “mal-humoradas”. E esse costume, silencioso e sutil, vai se infiltrando em tudo: no trabalho, nas relações, na família.
Mas chega um momento em que o corpo começa a dizer o que a boca não conseguiu. Cansaço, irritação, tristeza sem nome. Porque viver tentando agradar o tempo todo é, no fundo, uma forma de ir se afastando de si.
Criar pequenas revoluções — dizer “não” aos pais, se recusar a assumir o que não cabe mais, escolher o silêncio quando todos esperam concordância — é também um gesto de amor. Amor por quem você é, por quem está tentando se tornar, e pelo espaço interno que merece existir em paz.
Essa voz que sussurra dentro da gente — a que diz “não cause”, “não desagrade”, “não exagere” — costuma nascer do medo de perder o amor, o pertencimento, a aceitação. É uma voz que aprendeu, cedo demais, que ser amada dependia de se adaptar. E assim, muitas mulheres crescem moldando o próprio comportamento para caber nas expectativas alheias, até que já não sabem mais onde termina o desejo do outro e começa o seu.
Mas viver em busca de validação externa é uma armadilha sutil: quanto mais tentamos agradar, mais nos afastamos da nossa verdade. O olhar do outro se torna um espelho que nunca devolve quem realmente somos — e, nesse reflexo, vamos desaparecendo aos poucos. Reconhecer isso é o primeiro passo para sair do automático e começar a se perguntar: o que eu realmente quero? o que me faz bem? o que é meu e o que aprendi a querer para ser aceita?
Dar ouvidos à própria voz pode ser desafiador, mas é também o caminho de volta para si — um retorno à autenticidade que a pressa, a culpa e o medo tentaram silenciar.
Nem sempre é fácil, e quase nunca é confortável. Mas é assim que começamos a construir uma vida mais autêntica: uma escolha de cada vez, uma fronteira de cada vez, um “não” que abre espaço para muitos “sins” mais verdadeiros.
Psicóloga - CRP 12/27645
Bianca dos Santos é psicóloga (CRP 12/27645), mulher cisgênero e branca, cuja trajetória é marcada pela busca constante ...
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