Tem como se sentir bem sozinho?
O conforto na solidão nasce quando deixamos de fugir de nós.

Sentir-se sozinho é algo que atravessa a experiência humana. Mais cedo ou mais tarde, todos nós nos deparamos com esse eco silencioso, um vazio que às vezes se manifesta em forma de angústia, às vezes apenas como uma ausência difícil de nomear. Não é simples permanecer nesse lugar. Aprender a estar bem sozinho costuma ser um processo demorado, quase artesanal: exige presença, paciência e um certo cuidado em olhar para si sem pressa.
Na tentativa de escapar desse silêncio, nos cercamos de vozes, compromissos e distrações. Amigos, festas, trabalho, rotina — tudo parece útil para afastar a sensação de solidão. Mas há momentos em que, mesmo no meio de tudo isso, surge um instante de clareza: “eu tô sozinho... e agora?”
Esse reconhecimento pode ser assustador. A ideia de estar só desperta medos antigos — o medo de não ter apoio, de não ser visto, de não ser necessário. Afinal, o ser humano é uma espécie social. Precisamos do olhar do outro, da presença, dos vínculos que nos fazem sentir parte de algo maior. O encontro é essencial, o afeto é vital.
Mas há algo igualmente importante no exercício de se acompanhar. Quando conseguimos permanecer conosco, sem fugir para o barulho, começamos a descobrir outra forma de presença — a própria. Estar só, nesse sentido, não é o mesmo que estar isolado. É uma oportunidade de se escutar com mais profundidade, de entender o que é silêncio e o que é vazio, o que é solitude e o que é solidão.
Aos poucos, o desconforto inicial dá espaço a algo mais sereno: o reconhecimento de que podemos gostar de quem somos, mesmo quando não há ninguém por perto. Que o autocuidado não é um gesto de egoísmo, mas de responsabilidade consigo. E que estar bem sozinho é, na verdade, uma forma de estar mais inteiro quando se está com os outros.
