O luto é essa travessia: um processo natural, único e profundamente pessoal
Vivemos em uma sociedade que nos apressa a seguir em frente, mas o luto não tem prazo, ele precisa de tempo e permissão para ser sentido.
Vivemos em uma sociedade que nos apressa a seguir em frente, mas o luto não tem prazo, ele precisa de tempo e permissão para ser sentido.

A perda é uma das experiências mais universais e, ao mesmo tempo, mais solitárias que podemos viver. Ela nos visita de muitas formas: na morte de alguém que amamos, no fim de um relacionamento, na mudança que nos separa de um lugar ou de um tempo querido, na despedida de uma versão antiga de nós mesmos.
Cada perda carrega um tipo de vazio — um silêncio que se instala onde antes havia presença, rotina, voz, toque ou sentido.
Esse vazio não é apenas emocional; ele se manifesta no corpo, na energia, na forma como olhamos o mundo. De repente, coisas simples parecem perder a cor, e o tempo parece desacelerar ou se arrastar. É como se a vida, por um instante, ficasse suspensa entre o que era e o que ainda não sabemos como será.
O luto, nesse contexto, é a tentativa de dar sentido à ausência. É o processo pelo qual o coração tenta compreender o que a razão nem sempre alcança. E não se trata apenas de tristeza, tem também: confusão, raiva, culpa, medo ou até alívio. Cada emoção é uma expressão legítima de quem tenta se reorganizar diante do que se foi.
Vivemos, no entanto, em uma cultura que tem dificuldade em lidar com a dor. Falamos pouco sobre a morte, evitamos o sofrimento e, muitas vezes, esperamos que o outro “supere” rápido. Essa pressa silenciosa acaba isolando quem sofre — como se houvesse algo errado em sentir. Mas o luto é, antes de tudo, um movimento de amor. Ele existe porque algo foi importante o suficiente para deixar saudade.
A dor da perda não é um sinal de fraqueza; é uma lembrança de que fomos tocados, de que algo nos marcou profundamente. Aos poucos, aprendemos que o vazio não desaparece — ele se transforma. Ele se torna um espaço onde guardamos o que ficou: as memórias, os aprendizados, os afetos. E, com o tempo, esse mesmo vazio pode abrir espaço para novos significados, novas formas de viver e até novos começos.
Falar sobre a perda é uma maneira de honrar a vida , tanto a que partiu quanto a que continua. Porque, no fim das contas, o luto não é apenas sobre o que perdemos, mas sobre o que permanece em nós, silencioso, pulsando, transformado.
Psicóloga - CRP 12/27645
Bianca dos Santos é psicóloga (CRP 12/27645), mulher cisgênero e branca, cuja trajetória é marcada pela busca constante ...
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